“Os Esfoladores”
Na minha opinião, a peça retrata o confronto na mente de uma mulher. A vida desta mulher levou-a a ter medo do mundo e isolar-se dele, e ao mesmo tempo sentir-se infeliz pela sua própria solidão. Ela confronta-se com os seus medos, angustias, traumas, fantasias e memórias, acabando por se deixar matar pela própria consciência. Ao longo da peça, ela age como se tivesse várias personalidades, entretanto o seu lado lógico, que estava oculto pela sua loucura, fez com que ela entendesse que a vida dela é isolada e que no fundo ela já estava morta e que não havia mais espaço para aquele confronto de realidades, por isso o melhor mesmo seria ela morrer. Além da personagem feminina, existe uma personagem masculina, o reflexo da mente confusa e perturbada da personagem feminina. Ao longo da peça, abordam-se assuntos como a demência, a violação, as diferenças de classes, o canibalismo, a fome que obriga a existência desse canibalismo, o que é viver afinal, de que serve a vida se toda ela foi vivida em solidão.
A minha personagem, Ela, é uma mulher que viveu sempre só, foi condenada a solidão desde cedo, obrigada a prostituir-se e a viver a margem da sociedade. A condição a que foi sujeita causou nela um grande distúrbio, e passou a ver a vida como um animal, com o único propósito a sobreviver. Essa forma de vida fez dela algo semelhante a um canibal, pois não via nos outros humanos companhia, amizade, amor ou qualquer tipo de afecto e sentimento, apenas o meio de conseguir alimento. Dado ter de se prostituir, viu-se varias vezes obrigada a abortar, criando uma relação fria e distante com os próprios descendentes. O facto da vida dela ser uma constante solidão sem afectos, levou-a a ser capaz de ouvir e conversar com a própria consciência, procurando sempre o motivo de viver e escapando a dura realidade para o seu pequeno mundo. A própria fome de afectos traduzia-se nos seus instintos canibalescos
A personagem com quem contraceno, ele, é o reflexo da consciência que a acompanha a ela, e a sua projecção de companhia, o seu sonho de homem que ela queria ter para amar. Esta personagem tem uma espécie de sensatez que compreende o mundo em geral, e traduz os sentimentos dispersos para a realidade. É a única coisa capaz de a manter viva, assim como a única coisa capaz de a matar.
As duas personagens, têm entre elas, uma relação próxima de confiança, a existência dele é criada pela mente dela, logo entre ambos não existem segredos. Ambos tentam dar razão as suas existências e vivem apenas um para o outro como numa relação amorosa. A solidão leva a que se unam para encontrar essa razão de viver, concluindo então que preferem acabar com o sofrimento através da morte.
Filipa Araújo