segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quadr(ados)


Título
Quadr(ados)

Género
Performance de Dança-Teatro

Concepção, Coreografia e Encenação
Bruno Amarante

Produção
Grupo Pl’O Teatro

Participantes
Adelaide Rodrigues, Afonso Alves, Jorge Silva e Margarida Sousa

Performances, por ordem
Géneses
Autopsicofotografia
Pietá

Colaboração Coreográfica
Sónia Pontes

Colaboração Dramatúrgica
André Antunes

Desenho de luz
José Gonçalves

Agradecimentos
Junta De Freguesia de S.Víctor, Escola Secundária Dona Maria II, Câmara Municipal de Braga, Palácio das Artes , Feiras Francas Porto e

Fotografia
Ana Afonso

Apoio Cénico
Marta Cunha

Sonoplastia
Cristiano Oliveira

Design
Bruno Sérgio, André Sobral

Designação Etária
Maiores de 12

Exibição 29 de Julho21h30 Centro Cultural de Santo Adrião
30 de Julho, 16h00, 18h30 no Porto (Palácio das Artes)

Página Web
www.peloteatro.blogspot.com

Endereço Electrónico
grupopeloteatro@hotmail.com

Duração Aproximada
1h20

Este espectáculo contém material que pode ser perturbante.




Performance de Dança Teatro, dia 29 de Abril



Quadr(ados), desenvolvido por Bruno Amarante em articulação com os dançarinos com os quais trabalhou, assenta o seu espectáculo em três performances independentes. Usando a dança teatro como seu principal instrumento, mas também recorrendo a uma influência pictórica, o palco propõe uma série de limites (quadrados) dentro dos quais se possam exprimir certas sensações e anseios reprimidos pelo viver quotidiano mas que nele estão invariavelmente presentes.


Tenta-se criar um espaço aberto ao público onde aqueles que se expõem o fazem para permitir uma abordagem a temas comuns a todos. A partir de um trabalho que parte dos actores/dançarinos, desenvolve-se, para cada um, um tema especificamente escolhido por eles e que desenvolve no seio do seu grupo para aqueles que os assistem.

É em virtude disto que a primeira performance, aquela com maior duração e onde participam mais dançarinos, aproveita o tema proposto por Afonso Alves para retratar o (aparente?) paradoxo da evolução humana. Sujeito a um eterno retorno em que o progresso e a queda se confundem, dir-se-á que o homem comum tenta enquadrar-se num sistema de leis e de ideologias dentro dos quais a exploração do homem pelo homem e a guerra entre homens se justifica sem ser descortinado um qualquer sentido para isso. Mas, mesmo que não tome disso partido voluntário, está no entanto condenado a ter que sofrer os efeitos colaterais dessa repetição que, feita sob o desígnio da evolução, revela antes o paradoxo da inércia humana.

Foi Guernica o quadro que mais influenciou esta performance, que por sua vez tem o nome de Géneses, num contraste algo contraditório entre títulos. Mas, se as mãos que se lançam aos céus a pedir ajuda ou clemência o fazem quando as armas estão partidas e os possíveis heróis mortos, não poderá ser que esse fim trágico já estivesse na semente que tudo principiou?

Já a segunda performance, a solo, proposta pelo seu executor Jorge Silva, põe a nu um homem sozinho, e sempre sozinho, que, apesar de não encontrar uma outra pessoa com quem possa contactar, não deixa de ficar mais preocupado com a projecção da sua própria pessoa num outro plano. A consciência da sua própria morte parece de alguma forma colmatar-se naquela imagem, aparentemente inapagável. À omnipresença da imagem junta-se a efemeridade da sua própria vida, e os dois lados juntam-se necessariamente pois que um é a cópia do outro e o outro tolera que a imagem substitua o ser para perpetuar a forma humana. Esta Autopsicofotografia, assim é o nome desta segunda representação, inspirada não directamente por um simples quadro mas pelo actual fascínio pela projecção em tempo real, visa expor a fotografia contra a debilidade física. Estão as duas faces isoladas uma da outra? Seremos quem deixamos ficar?

A última interpretação chama-se Pièta, e tem como dançarina principal Adelaide Rodrigues, acompanhada por Margarida Sousa. Este terceiro quadro representado tem a sua inspiração primeira nos quadros e na vida de Frida Kahlo e retrata uma mulher na iminência de um aborto. Com a perda de integridade física e a criação de um corpo degenerado, ressalta a consciência da impotência da acção humana, agora sem o foco numa perspectiva de evolução ou de impossibilidade de perpetuação, como acontecera nas duas performances anteriores, mas na impotência do corpo e da liberdade de acção. É a beleza primitiva do corpo que se sujeita ela mesma à passagem por um parto doloroso, o qual resulta em morte e não na vida, como se o nascimento fosse o espelho da morte. Estar condenado a herdar um corpo que se sujeita aos mecanismos da vida, os quais são responsáveis pela destruição desse corpo, será pois a tormenta de uma incapacidade em se reter num único tempo. O nascimento de um filho morto é, por seu turno, marca sintomática de como também as gerações em que essa desesperança se transforma também não encontram um equilíbrio.

Com a exposição sequencial das três representações, será que estaremos então perante diferentes problemas, que ocupam portanto espaços diferentes do espectáculo? Ou será antes que existem diversas pontes e paralelos entre as diferentes histórias trágicas? Um fundo comum a todas as apresentações, que no entanto não se podem unificar numa única narrativa.


André Antunes